I – A HUMILHAÇÃO DE JÓ
- O Jó humilhado. Os capítulos 38, 39 e 40 demonstram como Deus expôs a Jó sua onipotência na Criação e sapiência em preservá-la. Ele mostrou que o patriarca era incapaz de, não apenas compreender a dinâmica da Criação, mas, sobretudo, fazer algo parecido com ela.
Jó se convenceu de que seus próprios questionamentos eram injustos. Se ele não era capaz de fazer o que Deus fez, então, com que direito criticava os caminhos divinos? Se apenas uma das criaturas de Deus era capaz de impor terror em Jó, como se comportaria ele diante do Criador dessas criaturas?
- Reverência e submissão. Diante da assombrosa visão da Criação de Deus, Jó agora exclama: “Bem sei eu que tudo podes” (Jó 42.2). Esse versículo demonstra sua atitude de reverência e submissão diante de Deus. Ele percebe que tudo o que aconteceu em sua vida tinha um desígnio divino e, portanto, era tolice discutir ou questionar com a sapiência divina: “Quem é aquele, dizes tu, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso, falei do que não entendia” (Jó 42.3; cf. 38.2).
Ao repetir a censura que Deus lhe fizera anteriormente, no capítulo 38, Jó demonstra não ver mais injustiça alguma nas ações de Deus. Ele admite que agiu com presunção, pois desconhecia os sábios propósitos divinos.
- Uma experiência viva com Deus. A postura de Jó diante de Deus muda drasticamente. Ele ainda continua a se dirigir a Ele, mas não da mesma forma que fazia. Agora sua atitude é humilde, reflexo de uma experiência viva com Deus, conforme descrita nas seguintes palavras: “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos” (Jó 42.3). Para Jó, Deus era conhecido apenas de ouvido, mas agora o patriarca viu o Criador.
Essa experiência mudou-lhe a forma de ser. Segundo o teólogo Roy Zuck, Jó possuía um conhecimento de Deus apenas por tradição, de segunda ou terceira mão; mas agora ele o conhecia por meio de uma experiência pessoal. Não podemos nos contentar com um conhecimento teórico acerca de Deus, mas devemos experimentá-lo. Quando temos experiências vivas com o Altíssimo, renunciamos aos nossos “achismos” (42.3), confessamos nossa miséria “no pó e na cinza” (42.6), rejeitamos o nosso orgulho e rebeldia. Deus é glorificado em todas as áreas da vida.
II – A INTERCESSÃO DE JÓ
- A ira de Deus. Após ter se dirigido a Jó, o Senhor volta-se para Elifaz, o temanita: “A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó.” (Jó 42.7). Estas palavras dizem muito sobre o conteúdo teológico do livro de Jó. Demonstram que as exposições feitas pelos seus amigos não eram todas verdadeiras, pois partiam de premissas falsas.
Eles não apenas acusaram o patriarca, mas associaram o seu sofrimento a algum pecado cometido por ele. Jó havia se humilhado, mas não do que lhe acusavam. Ele humilhou-se a respeito de suas falas precipitadas que revelavam orgulho e falta de bom senso. Em outras palavras, ele errou durante o seu sofrimento, mas não por conta de pecados cometidos antes do atual sofrimento.
- O pecado dos amigos de Jó. Representados por Elifaz (42.7.9), o mais velho, o pecado dos amigos de Jó oi evidentemente exaltar a justiça de Deus, mas limitar seu poder soberano. Para eles, todo sofrimento deveria ser uma consequência de um juízo divino como resposta a um pecado praticado. Como o livro de Jó demonstra, quando dentro dos propósitos de Deus, o sofrimento é uma manifestação de seu amor e graça e não uma forma de punição (Jó 1.8-12).
Paulo corrobora esse princípio quando diz que nos foi concedida a graça de padecermos por Cristo e não apenas de crermos nele (Fp 1.29). Nisto os amigos de Jó pecaram e, por isso, precisavam da intercessão do homem de Uz.
- A oração de Jó. Deus dirige-se aos amigos de Jó e aconselha-os irem ao patriarca para que este interceda por eles (Jó 42.7,8). Esse episódio mostra que uma teologia errada, evidentemente, conduz para uma crença igualmente equivocada. Os amigos de Jó defenderam Deus de forma enérgica e sincera, mas errada. O sofrimento do patriarca não veio como uma punição, mas como provação.
A fidelidade de Jó foi provada por Deus e ele foi aprovado pelo Criador, pois continuava íntegro e com seu caráter reto, conforme sua humilhação demonstrou. Agora, esse homem, outrora acusado de pecador pelos seus amigos, os socorrerá por meio da oração.
III – A RESTAURAÇÃO DE JÓ
- Restauração moral e espiritual. A restauração de Jó acontece primeiramente nas dimensões moral e espiritual. Convém destacar que as bênçãos recebidas por ele devem ser vistas como uma restauração e não retribuição. Não há uma teologia da retribuição no Livro de Jó, onde o ímpio é sempre punido e o justo sempre recompensado.
A mensagem de Jó é diametralmente oposta a esse princípio. A lição moral e espiritual do livro é que Deus abençoa os homens porque os ama e não porque estão envolvidos numa troca de favores em que prevalece uma barganha espiritual.
- Restauração social e material. A restauração de Jó também aconteceu nas dimensões social e material (Jó 42.11). As calamidades que sobrevieram sobre ele, especialmente, suas feridas físicas e emocionais, o expulsaram do convívio social. Ele suportou sozinho o que pensavam ser um julgamento de Deus. Mas agora todos vêem a graça divina derramada de forma abundante sobre ele.
Era, portanto, a hora de voltar ao convívio social e desfrutar de tudo o que o Senhor lhe deu, pois “o SENHOR acrescentou a Jó outro tanto em dobro a tudo quanto dantes possuía” (Jó 42.10). A restauração que o Senhor Jesus faz na vida do ser humano leva em conta todas as dimensões da vida. Ele restaura a vida espiritual, moral, social, material, trazendo dignidade ao homem que teve, por meio da graça divina, a imagem de Deus restaurada.