I – O PONTO DE PARTIDA PARA A VOCAÇÃO DE PAULO
1- Chamada e presciência divina.
A vocação de Paulo foi estabelecida segundo a presciência de Deus. Ele mesmo confirma esse fato aos gálatas, quando escreve: “Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça” (Gl 1.15). O apóstolo experimentou uma completa transformação por meio do encontro com Cristo, e foi vocacionado por Ele para uma grande obra.
O Livro de Atos atesta para uma chamada presciente quando o nosso Senhor diz a Ananias: “Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel. E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome” (At 9.15,16). Assim, Paulo foi batizado no Espírito Santo, batizado nas águas e teve a sua visão recuperada (At 9.18).
2- Um ministério na plenitude do Espírito.
Depois de passar pela experiência do Novo Nascimento, Paulo recebeu a plenitude do Espírito, isto é, ele foi batizado no Espírito Santo (At 9.17). Nesse sentido, o Livro de Atos revela que o ministério do apóstolo dos gentios recebeu uma unção especial do Espírito Santo. Foi um ministério marcado por pregação poderosa, curas, sinais, prodígios e maravilhas. Com o ministério do apóstolo, aprendemos que não podemos fazer a obra de Deus sem a atuação do Espírito Santo. Ele é que confirma a Palavra e a obra.
3- Deus mudou o nome de Saulo para Paulo?
Na Bíblia, vemos ocasiões em que Deus mudou o nome de pessoas (Abrão para Abraão [Gn 17.5]; Jacó para Israel [Gn 35.10]), como Jesus alterou o nome de Simão para Pedro (Mc 3.16; Jo 1.42). Entretanto, isso não se deu com o nome do apóstolo Paulo. Não há qualquer menção disso na Bíblia. O que explica a mudança de ênfase do nome de Saulo para Paulo é a origem do apóstolo. O nome “Saulo” (aportuguesado de “Saul”) remonta sua origem judaica; já “Paulo” (aportuguesado de Paulus, em latim), sua cidadania romana. Como o ministério do apóstolo buscava alcançar os gentios, o nome “Paulo” foi naturalmente usado no trabalho missionário e, consequentemente, nas Escrituras canônicas.
II – UMA VOCAÇÃO EFETIVADA PELO CRISTO RESSURRETO
1- Saulo viu o esplendor glorioso do Cristo ressurreto (At 9.3-6).
Não foi uma miragem, nem uma ilusão de ótica, mas Saulo viu realmente o Cristo ressurreto, a quem ele perseguia (At 9.17). Essa visão gloriosa ofuscou seu orgulho ante às autoridades judaicas e foi definitiva para a vida daquele que, mais tarde, seria um embaixador de Cristo entre os gentios.
2- Uma vocação inevitável para o apostolado entre os gentios.
Deus escolheu Saulo de antemão para fazer conhecer a sua vontade (At 22.14). Qual era a vontade dEle para Saulo? Torná-lo um embaixador de Cristo, um pregador do Evangelho (At 9.20). Não por acaso, as várias cartas do apóstolo às igrejas plantadas por ele eram assim identificadas: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus” (Ef 1.1). O apóstolo não foi ordenado em Jerusalém, nem por uma comissão de apóstolos formada por Pedro, João e Tiago, ou por outros apóstolos de Cristo. O que prevaleceu foi a declaração de Jesus para Ananias, discípulo fiel de Cristo em Damasco: “Vá, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome diante dos gentios e reis, bem como diante dos filhos de Israel” (At 9.15). Ananias, com autoridade delegada pelo próprio Senhor Jesus numa visão, foi ao encontro de Saulo, na rua chamada Direita, e lá chegando, “impôs as mãos sobre Saulo” (At 9.17).
3- A vocação mudou o rumo da vida de Saulo.
De perseguidor dos seguidores de Jesus, de personalidade tenaz e obstinada (At 9.1.1-6), Deus chamou Saulo e o transformou no apóstolo que seria o maior responsável pela expansão da Igreja no mundo gentílico. A operação da graça salvadora na vida de Saulo promoveu uma mudança radical em sua vida. Foi Jesus que o confrontou, o surpreendeu e o chamou pelo nome. Cristo ainda chama o ser humano para frutificar no Reino de Deus. É necessário um encontro real com Cristo. Quando isso acontece, Ele capacita o ser humano para o seu propósito. Assim aconteceu com Saulo.
III – VOCAÇÃO DE PAULO E O APRENDIZADO NO DESERTO
1- A ida para o deserto.
O ministério de Paulo precisava de uma preparação austera, silenciosa, de comunhão com Deus e de reflexão. Em vez de ir a Jerusalém para aprender com os apóstolos, ele afastou-se dos judeus nas sinagogas, onde posteriormente passou a apresentar Cristo. Paulo tomou o caminho da Arábia, a sudeste de Damasco, sob o domínio do rei Aretas (Gl 1.17,18; cf. 2 Co 11.32). O apóstolo preferiu viver em um lugar, na região desértica da Arábia, onde habitavam alguns grupos nômades e ele era totalmente desconhecido.
No deserto, Deus ensinou Paulo a ser o líder que Ele precisava para expandir o seu reino.
2- As lições do deserto.
O apóstolo sabia que precisava aprofundar o seu conhecimento acerca de Jesus Cristo, pois seu caminho seria de confrontos com dúvidas, oposição e rejeição. Então, foi para o deserto da Arábia e ficou três anos aproximadamente, entre a sua conversão e o seu retorno a Jerusalém (Gl 1.17,18). Esse período serviu para Paulo reavaliar a si mesmo diante de Deus, suas crenças e convicções judaicas, confrontando-as com a revelação da graça de Deus em Cristo Jesus. Assim, Paulo se preparou para explicar sua vocação aos líderes da igreja em Jerusalém.
3- Mais lições do deserto.
Saulo passou a usar seu nome romano Paulo, com o qual se tornou conhecido em seu ministério. Ao tomar o rumo do deserto para refletir e aprender, o agora Paulo foi despido de toda a filosofia e religiosidade legalista do judaísmo. No deserto, ele aprendeu que a simplicidade era a chave que abria a porta do cristianismo, que era preciso dominar suas paixões, substituindo-as pela alegria da salvação em Cristo. Ele também aprendeu que a imensidão do deserto esmaga o poder e a fraqueza do homem; agora ele só pode depender de Deus. Por isso, Paulo descobre também, na experiência do silêncio e da solidão no deserto, que as coisas de Deus são do modo como Ele quer e não como nós queremos. No deserto, Deus ensinou Paulo a ser o líder que Ele precisava para expandir o seu reino.
A grande verdade que aprendemos nesta lição é que Deus não mudou seu método para vocacionar e chamar a quem Ele quer. Para isso, Ele usa experiências muitas vezes dolorosas no deserto da vida. É preciso aguçar a nossa sensibilidade espiritual para identificarmos o chamado de Deus para a nossa vida.