Os Valores do Reino de Deus

Lição 4

Resguardando-se de sentimentos ruins

Nesta lição aprenderemos com o Mestre Divino que o Evangelho não é antinomista (a partir da explicação desse conceito), que a cólera é a antessala do homicídio e que para de ­ votar na nossa vida a Deus, precisamos nos reconciliar com o próximo.

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I- O EVANGELHO NÃO É ANTINOMISTA

1- O que é Antinomismo? A palavra nos fornece a própria definição: constituída do grego Anti, que quer dizer “contra”; e nomos, “lei”; diz respeito a tudo contrário à lei, normas e regras. A palavra traz a ideia de que os cristãos não precisam obedecer à lei moral do Antigo Testamento. Defensores antinomistas dizem que a Lei não teve origem em Deus Pai e que, por isso, ela deve ser rejeitada. Há os que dizem que Deus havia determinado por decreto a existência do pecado, de modo que jamais se pode evitá-lo, por isso, não há razão para a existência da Lei. Por fim, outros ainda defendem simplesmente que a Lei é apostar ao Evangelho. Entretanto, veremos que esse ensino violam as Escrituras que o Antinomismo é um desvio da Palavra de Deus (Rm 6.15,16).

2- A Lei e o Evangelho. Conforme visto na lição anterior, Jesus não desprezou a Lei. Em Mateus 5.21 vemos claramente isso. A expressão “Ouvistes o que foi dito aos antigos” aponta para uma retrospetiva de um ponto da Lei de Moisés. Diferentemente dos escribas e fariseus, nosso Senhor deu ênfase à autoridade da Lei e revelou a real intenção de Deus presente nela. Atente para o mandamentos “Não matarás” (Êx 20.13). Enquanto os escribas e fariseus interpretavam esse mandamento de maneira restrita ao ato literal de matar uma pessoa, nosso Senhor o ampliou e aprofundou, demonstrando que o homicídio tem início no coração do ser humano a partir da ira, do ódio, da cólera (cf. M t 5.22).

3- Legalismo x Antinomismo. O legalismo é uma atitude que se concentra na observância e prática rigorosa das leis com o elemento determinante para uma comunidade alcançar o favor de Deus. Por outro lado, o antinomismo rejeita todo tipo de normas morais, deixando a pessoa livre para pecar. Assim, o legalismo foi refutado duramente pelo apóstolo Paulo (Fp 3.3-4 ), e o antinomismo fere de morte a vocação dos cristãos para a santidade (Rm 1.7; 1 Pe 1.15,16). Como amamos todo o conselho de Deus revelado nas Sagradas Escrituras, afirmam os que os princípios morais divinos revelados na Bíblia, a Palavra de Deus, são atemporais, válidos em qualquer época e cultura. E, por isso , o cristão fiel à Bíblia tem cuidado tanto com o legalismo quanto com o antinomismo.

II- A CÓLERA É 0 PRIMEIRO ATO PARA O HOMICÍDIO

1- Jesus e o sexto mandamento. Jesus não anulou o sexto mandamento do Decálogo (Êx 20.13; Dt 5.17). Contudo, sua interpretação foi mais elevada e profunda, pois revelou que a ira ou cólera contra um irmão é um tipo de homicídio no coração, com o bem afirmou o apóstolo João : “ Qualquer que aborrece a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem permanente nele a vida eterna” (1 Jo 3.15). Não é por acaso que o verbo “irar” no grego, em Mateus 5.22, é orgizo, que significa provocar, incitar a ira, estar zangado, estar enfurecido. A fúria e a ira de Caim o levaram a cometer o primeiro homicídio contra o próprio irmão (Gn 4.5,8). Portanto, o sexto mandamento não envolve apenas um a sanção penal, mas elementos mais profundos como palavras, emoções, insultos e outras ações que se antecipam ao homicídio.

2- A cólera no contexto bíblico. Tanto o salmista quanto o apóstolo Paulo escreveram que um servo de Deus pode irar-se, mas não deve pecar (Sl 4.4; Ef 4.26). A ira é uma emoção humana. Por isso, na Bíblia, vemos pessoas justas se irando contra o pecado, contra os atos desumanos, contra o desrespeito à Palavra de Deus (Os 4.1-3). Nosso Senhor manifestou ira contra os que faziam do templo um “covil de ladrões” (Jo 2.13-17). Entretanto, a ira não pode nos controlar e devemos examinar se ela provém de um espírito reto, de um coração puro, ou se é um a obra da carne, do tipo pecaminosa, orgulhosa, odiosa e vingativa (Gl 5.20). O imperativo bíblico é que a ira não pode nos dominar (Ef 4.26; Hb 12.15).

3- O valor da pessoa humana. Em Mateus 5.21,22 Jesus enfatizou o valor da pessoa humana. Por isso, chamar alguém de raça, que significa inútil, cabeça oca e vazia, é uma ofensa grave, igualada à blasfêmia. Ou chamar o outro de “louco”, do grego móros, que significa ímpio, incrédulo, é uma conduta moralmente desprezível. Observe que, para quem manifestasse esses tipos de comportamentos, o fim era se tornar réu do Sinédrio e receber a condenação para o fogo do Inferno, do grego Geena, respetivamente. Nesse sentido, nosso Senhor mostra que não só peca quem comete um homicídio, mas igualmente os que nutrem a cólera, o ódio e o rancor no coração. A vida humana tem um valor sagrado. Por isso, o patrão deve tratar bem o seu empregado e este, consequentemente, deve respeitar o patrão; o irmão não pode fazer aceção de pessoas para com o outro irmão, quer por causa da cor da pele, quer por diferenças econômicas, pois como o apóstolo Pedro disse: “Reconheço, por verdade, que Deus não faz aceção de pessoas” (At 10.34).

III- A “OFERTA DO ALTAR” E A DESAVENÇA

1- A oferta do altar. Em Mateus 5.23.24, Jesus se dirige aos discípulos e faz com que cada um examine a si mesmo, pois um servo do Senhor não pode ofertar no altar com um coração cheio de ira e rancor. Afinal, dizer amar a Deus, mas odiar o irmão é cair na mentira (1 Jo 4.20). Para o judeu, ofertar era um ato sagrado e tal atitude fazia-o reconhecer a bondade de Deus para com ele (Gn 4.3,5; Êx 25.2; Lv 1.2 ; SI 66.13). Nesse sentido, o Senhor Jesus valorizava esse ato. Entretanto, não adiantava reconhecer a bondade de Deus, mas não se reconciliar com o irmão . Cabe ressaltar que o verbo grego para “reconciliar”, é diallassô, que significa mudar a mente de alguém, renovar a amizade com alguém. Ele é encontrado no Novo Testamento apenas uma vez, em Mateus 5.24. Portanto, o ensinamento de nosso Senhor é claro: não há relacionamento correto com Deus sem relacionamento verdadeiro com o irmão.

2- Evitando a desavença. Os versículos 25 e 26 de Mateus 5 têm relação com os versículos 23 e 24, mas uma conotação diferente: os versículos 23 e 24 dizem respeito à adoração; os 25 e 26 dizem respeito ao processo legal. Ambos, porém, procuram advertir os discípulos quanto ao problema da desavença entre irmãos. Nos versículos 25 e 26, nosso Senhor enfatiza que é preciso buscar uma solução para a desavença entre irmãos fora do tribunal. Naquela época, quando a pessoa era sentenciada, pagaria até o último kodrantes (de origem latina), que significa quadrante (aproximadamente quarta parte de um “asse” ), a menor moeda de cobre romana, valendo cerca de um quarto de um centavo. Nosso Senhor, portanto, nos convida a sanar as desavenças entre nós e, assim, preservamos o bom testemunho. Atentemos para a reflexiva indagação do apóstolo Paulo: “Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos e não perante os santos? […] Não há, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?” (1 Co 6.1,5).

Como servos de Cristo que vivem os as verdades do Evangelho, não deixemos que pensamentos, palavras e ações firam o nosso próximo, nem deixemos que as desavenças tornem-se disputas entre nós. Em caso de desavenças e desentendimentos, à luz das Escrituras, deve-se reconciliar-se imediatamente, seguir em paz com todos (Hb 12.14), pois é isso que o nosso Deus desejou quando escreveu: “Não matarás!”

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