SACERDOTES E LEVITAS
História, Funções e cumprimento neotestamentário
Apesar dos termos “sacerdote” e “levita” aparecerem centenas
de vezes no AT e no NT, há muita divergência entre os estudiosos quanto à
identidade, função e desenvolvimento dos indivíduos assim designados.
Basicamente o assunto tem amplas consequências sobre a história, adoração e
religião de Israel.
A palavra “sacerdote”, com e sem modificadores, aparece mais
de 700 vezes no AT e mais de 80 vezes no NT. A palavra usual para sacerdote é
kohen. Alguns acreditam que é possível que os sacerdotes do AT fossem, a
princípio, adivinhadores (veja kâhin, “adivinhador” em árabe), mas admite que
não há evidência no AT de condições extáticas por parte dos sacerdotes. Uma
parte importante do ministério deles, porém, era a entrega de oráculos por meio
da sorte (Urim e Tumim).
Em Deuteronômio, os sacerdotes são chamados “os sacerdotes
levitas”, pois Moisés havia delegado direitos sacerdotais aos filhos de Levi
(Êx 32.6ss.; Dt 33; Jr 33.17ss.). O sacerdote seria aquele que se coloca de pé
perante Deus para ministrar.
Origens
Sacerdócio em geral. Nos países pagãos ao redor de Israel,
como Egito e Babilônia, o sacerdócio estava intimamente relacionado à magia e
superstição. Há muitos exemplos dos laços entre o sacerdócio e o ocultismo nas
religiões antigas.
Sacerdócio semítico. Nessa área, estudiosos do assunto
traçaram grande quantidade de paralelos da religião árabe em suas formas pagãs.
Esse procedimento está de acordo com as leis, mas deve-se ter cuidado em se
traçar paralelos com as condições em Israel. O sacerdócio em Israel leva em
consideração outra dimensão no mundo religioso, o da revelação sobrenatural.
O sacerdócio de Israel (os levitas). O registro histórico
coloca a origem do sacerdócio de Israel no período mosaico em conexão com o
ministério no Tabernáculo, onde a arca era guardada, relaciona o sacerdócio com
a família de Moisés e especificamente o conecta ao ofício sacerdotal a Arão e
sua família (Êx 25-40).
O oficio do sacerdócio foi legado à tribo de Levi. Os
levitas traçam sua origem a um ancestral comum (Gn 49). Deuteronômio 33.8-10
indica, de um modo geral, que os sacerdotes deveriam ministrar no altar,
queimar os sacrifícios e ensinar a lei. Os levitas eram definidos como os descendentes
de Levi (Gn 29.34). Ele era o terceiro filho de Jacó e Lia, e ancestral da
tribo dos levitas. A maldição de Jacó sobre Levi (34.25ss.; 49.5ss.)
transformou- se em bênção por meio de Moisés (Êx 32.29; Dt 33.8,9). Eles não
receberam nenhuma herança tribal em Canaã. Havia três famílias: Gérson, Coate e
Merari. Foi Coate quem proveu os verdadeiros sacerdotes. Os outros levitas
ajudavam como seus auxiliares ao redor do santuário (Nm 3.5ss.). Quando
Ezequias e Josias instituíram suas reformas (2Rs 18.4; 23.8s.), os levitas que
estavam ministrando em outros santuários no país perderam suas posições. O
sacerdócio ficou restrito aos descendentes de Arão.
Porém, alguns não levitas realizaram funções sacerdotais de
vez em quando: o filho de Mica, um efraimita (Jz 17.5); os filhos de Davi (2Sm
8.18); Gideão (Jz 6.26) e Manoá de Dã (Jz 13.19).
Importância do sacerdócio levítico
Em Israel, o sacerdócio representava o relacionamento da
nação com Deus. A intenção original da aliança mosaica era para que toda a
nação fosse um reino de sacerdotes (Êx 19.6; cp. Lv 11.44ss.; Nm 15.40). A
aliança de Deus era mediada por intermédio do sacerdócio. Na teologia bíblica,
os conceitos de sacerdócio e aliança estão intimamente ligados. Por causa da
aliança no Sinai, Israel deveria ser um “reino de sacerdotes e uma nação santa”
(Êx 19.5,6; cp. Is 61.6). O fato de Deus delegar funções sacerdotais a uma
tribo não liberou o resto da nação de suas obrigações originais.
Os levitas serviam num caráter representativo em favor de
toda a nação no que se referem a honra, privilégio e obrigação do sacerdócio.
Quando os sacerdotes ministravam, eles o faziam como representantes do povo.
Era uma necessidade prática que a obrigação corporativa do povo da aliança
fosse levada a cabo por representantes sacerdotais. Além disso, os sacerdotes,
em sua condição separada, simbolizavam a pureza e a santidade que Deus exigia.
Eles eram um lembrete visível das justas exigências de Deus. Além do mais, como
substitutos do povo eles mantiveram intacto do relacionamento de aliança da
nação com Deus. A função primária do sacerdócio levítico, consequentemente, era
manter, assegurar e restabelecer a santidade do povo escolhido de Deus(Êx
28.38;Lv 10.7;Nm 18.1). O sacerdócio mediava a aliança de Deus com Israel (Ml 2.4ss.;
Nm 18.19; Jr 33.20-26).
No Israel antigo, uma função importante dos sacerdotes era
revelar a vontade de Deus, por meio do éfode (ISm 23.6-12). Eles estavam
constantemente ocupados com a instrução na lei (Ml 2). Certamente seus deveres
sempre incluíam a oferta de sacrifícios. Os sacerdotes antigos eram guardiões
do santuário e intérpretes dos oráculos (ISm 14.18). As instruções na lei
pertenciam aos sacerdotes (Os 4.1-10). O sacerdote agia como juiz, uma
consequência de suas respostas a questões legais (Êx 33.7-11).
Tríplice divisão da hierarquia
O sacerdócio era dividido em três grupos: (1) o sumo
sacerdote, (2) os sacerdotes comuns e (3) os levitas. Todos os três descendiam
de Levi. Todos os sacerdotes eram levitas, mas nem todos os levitas eram sacerdotes.
A ordem mais baixa do sacerdócio era a dos levitas, que cuidavam do serviço do
santuário. Eles tomaram o lugar dos primogênitos que pertenciam a Deus por
direito (Êx 13.2,12,13; 22.29; 34.19,20; Lv 27.26; Nm 3.12,13,41,45; 8.14-17;
18.15; Dt 15.19). Os filhos de Arão, separados para o ofício especial de
sacerdote, estavam acima dos levitas. Apenas eles podiam ministrar nos
sacrifícios do altar. O nível mais elevado do sacerdócio era o sumo sacerdote.
Ele representava fisicamente o cume da pureza do sacerdócio. Carregava os nomes
de todas as tribos de Israel em seu peitoral para o interior do santuário,
representando todo o povo perante Deus (Êx 28.29). Apenas ele podia entrar o
santo dos santos e apenas um dia no ano, para fazer expiação pelos pecados de
toda a nação.
Consagração de sacerdotes
As cerimônias ligadas com a consagração dos sacerdotes estão
descritas em Êxodo 29 e Levítico 8. Elas incluíam um banho de consagração,
unção, vestimenta e sacrifícios. A lavagem simbolizava a limpeza do coração para
as obrigações ligadas à pureza da nação perante Deus. A unção (Lv 8.10,11)
envolvia o derramar óleo na cabeça do sumo sacerdote e respingá-lo nas
vestimentas dos outros sacerdotes (vv. 22-24). As vestimentas dos sacerdotes e
especialmente a do sumo sacerdote eram caras e bonitas (Êx 28.3-5; Lv 8.7-9).
Os sacrifícios de consagração incluíam a oferta pelo pecado (8.14-17), oferta
queimada (vv. 18-21) uma oferta de consagração especial (vv. 22-32). O sangue
do carneiro era aplicado na orelha, no dedo polegar e no dedo do pé direitos de
Arão e de seus filhos, para simbolizar consagração física completa ao Senhor.
Conceito tradicional.
1. Observação geral. Provavelmente em nenhum outro campo de
pesquisa do AT as conclusões da investigação crítica moderna estão em oposição
tão marcante ao conceito tradicional quanto na questão dos sacerdotes e
levitas. A abordagem de Wellhausen da religião do AT efetuou-se uma
reconstrução radical da história do sacerdócio em Israel e da relação entre
sacerdotes e levitas. Os estudiosos críticos, porém, estão longe de qualquer
acordo. Exigem-se modificações de caráter radical na avaliação crítica. Antes
do início do criticis- mo histórico do AT, o registro do sacerdócio no
Pentateuco era aceito como uma história válida. O registro indica que o
sacerdócio começou com Moisés, que era da tribo de Levi. Pela autoridade
divina, Moisés consagrou seu irmão Arão e seus filhos para serem sacerdotes (Êx
28.1). Os rituais de consagração duraram uma semana (29.35,36; Lv 8.15-29,35).
Após isso, Arão e seus filhos tomaram para si as obrigações sacrificiais (Lv
9). O sacerdócio era restrito à família de Arão e seus descendentes
(Êx28.1,43;Nm 3.10). Aposição de Arão era única como sacerdote ungido (Êx
29.7), e ele utilizava túnicas especiais para o ofício (28.4; 6.39; Lv 8.7-9).
Quando de sua morte, o ofício passaria a seu filho Eleazar (Nm 20.25-28). O
sumo sacerdote estava no primeiro nível entre os sacerdotes, e sua morte
marcava o fim de um ciclo ou era teocrática (Lv 21.10; Nm 35.28).
Pelo fato de Arão ser levita, o sacerdócio hebreu residia
exclusivamente nos levitas. Todos os sacerdotes legítimos eram levitas. Após a
introdução de Arão e seus filhos no sacerdócio, toda a tribo de Levi foi
separada, como substituta dos primogênitos, para ministrar no serviço do
santuário (Nm 3.5ss.). Os levitas consistiam de três grupos: gersonitas,
coatitas e meraritas, com obrigações específicas para cada grupo (3.14-18).
Quando Coré e seus seguidores se rebelaram contra a autoridade de Arão (Nm 16),
eles foram destruídos e o sacerdócio de Arão foi confirmado de forma notável.
Aposição tradicional sobre o sacerdócio é simples. De acordo
com esse conceito, os três níveis da hierarquia são o sumo sacerdote, os
sacerdotes e os levitas. Eles se originaram com Moisés no deserto, e o sistema
está em vigor em todo o período pós- exílico, estendendo-se, assim, por toda a
história de Israel. Em resumo, todas as leis do Pentateuco vieram de Deus por
meio de Moisés; o registro da história posterior dada em Crônicas é preciso; a
visão de Ezequiel, se interpretada literalmente, não poderia ser reconciliada
com os fatos conhecidos. Portanto, precisaria de uma explicação adicional e,
nos casos de discrepâncias nos registros, as harmonizações deveriam ser
aceitas.
2. Sacerdócio nos tempos pré-mosaicos. No período hebreu
antigo, como na época anterior a Abraão (pré e pós-diluviana), não havia uma
classe sacerdotal especial. O Pentateuco relaciona explicitamente o santuário,
o sistema de sacrifício e a classe sacerdotal com a revelação divina por meio
de Moisés. No período patriarcal, o cabeça de cada família exercia a função
sacerdotal do sacrifício. Na verdade, o próprio Deus iniciou o conceito de
sacerdócio por ocasião da queda de Adão (Gn 3.21). Sugeriu-se que a pergunta
num oráculo (25.22) e a entrega de dízimos (28.22) implicavam em um santuário
com um sacerdote no ofício, mas isto pode ser sobrecarregar os fatos com uma
conclusão sem garantias.
Os únicos sacerdotes mencionados em Gênesis e Êxodo, antes
da entrega da lei de Moisés, eram sacerdotes estrangeiros: Melquisedeque (Gn
14.18), os sacerdotes egípcios (41.45) e Jetro, o sacerdote midianita (Êx2.16;
3.1; 18.1). Referências gerais a sacerdotes antes da lei são encontradas em
Êxodo 19.22,24, que parece sugerir sacerdócio anterior a Moisés. Além disso,
Êxodo 32.25-29 indica que aos levitas foi dado o sacerdócio por sua fidelidade
em cumprir a ira de Deus após o pecado do bezerro de ouro.
A princípio, o sacerdote estava preocupado com o sacrifício
e com a instrução nos afazeres da vida. Em Deuteronômio 33, a função de ensinar
do sacerdote é proeminente (v. 10). Era feita por meio do Urim e Tumim (v. 8) e
pela referência ao código legal. Ele era professor e administrador da justiça e
precedente legais (Dt 17.8-9; 21.5).
No período primitivo, o sacrifício não era a única ocupação
de um sacerdote, e.g., Caim e Abel (Gn 4.4), Noé (8.20), Abraão (12.7,8),
Isaque (26.25) e Jacó (35.3,7). Os chefes das famílias exerciam funções
sacerdotais antes da construção do Templo (Jz 13.19; cp. Jó 1.5). O mesmo
ocorria com um juiz (Jz 6.19ss.), um profeta (lRs 18.30ss.) e um rei (2Sm 6.17;
lRs 8.22,54ss.). Parece que os sacerdotes estavam ligados a santuários
específicos, onde transmitiam a vontade de Deus por meio de oráculos, e
ofereciam sacrifícios (Jz 20.18,27; ISm 1.3ss.). Nessa época (pré-monárquica) o
sacerdócio não era exclusivamente levítico (Jz 17.5,7-13). Na monarquia
primitiva as referências mostram que sacerdotes não-levíticos estavam presentes
ao lado da ordem levítica. Duas famílias levíticas existiam na época dos
juízes: a de Dã, estabelecida por Jônatas, neto de Moisés (Jz 18.1-4,14-20,30)
e ade Siló, ocupado por Eli e seus filhos, descendentes de Arão (1 Sm 1-4;
22.20; lRs 2.27). Provavelmente, alguns que não eram descentes levíticos foram
unidos à tribo de Levi (Dt 33.8,9). O mesmo ocorreu com Samuel. Ele era um
efraimita por nascimento (1 Sm 1.1 ss.), mas ministrou como sacerdote no
santuário (1.27,28; 2.11,18; 3.1); assim, o cronista o considerou um levita
(lCr 6.16-28).
3. Na era mosaica. Como dito anteriormente, o sistema
sacerdotal completo começou com Moisés. Isso não quer dizer que as funções
sacerdotais de sacrifícios e presentes a Deus estavam ausentes, porque os pais
das famílias cuidavam desses assuntos importantes. Os livros do Pentateuco
firmam o sacerdócio na tribo de Levi, na casa de Arão, por direção de Deus por
meio de Moisés.
Arão e seus filhos foram consagrados para suas obrigações.
Êxodo 28s. trata dos detalhes da consagração deles (Lv 8; 9). Os sacerdotes
ministravam sobre o altar (Lv 1; 4), e ensinavam ao povo a lei do Senhor (Lv
10.11; Dt 24.8; 33.10; Os 4.1-6). Havia leis especiais para a conservação da
sua pureza (Lv 21; 22). As provisões estavam principalmente relacionadas com a
prevenção da contaminação, que os tomava inadequados para o serviço.
Uma parte do sacrifício era dada ao sacerdote como renda
pela oferta do israelita, e a pele do animal morto era dele. Em Deuteronômio é
declarado que no santuário o sacerdote participava em parte das primícias e do
dízimo. Todo terceiro ano o dízimo deveria ser distribuído para o pobre, entre
os quais os levitas foram listados (Dt 12.17-19; 14.22,29; 26.12). Foi
estabelecido que um décimo da produção da terra deveria ir para os levitas,
para sustento deles (Nm 18.21-24). As ofertas pelo pecado e pela transgressão
pertenciam aos sacerdotes, juntamente com uma taxa anual de meio siclo por cada
israelita, para o sustento do santuário. Um décimo dos dízimos recolhidos pelos
levitas ia para os sacerdotes. Cidades com pastagens foram designadas aos
levitas, e um determinado número dessas cidades designadas aos sacerdotes.
Aos levitas foram dados deveres adicionais, no lugar de suas
obrigações de transporte, e eles foram as pessoas necessárias para implementar
a legislação quando Israel foi espalhado pela terra de Canaã (Dt 18.6-8; 21.5;
24.8; 33.8).
4. De Moisés a Malaquias. A evidência de Ezequiel será
adiada dessa discussão para um período posterior. O sacerdócio é designado como
a herança dos levitas (Js 18.7). “Os sacerdotes e levitas” e “os sacerdotes”
são expressões encontradas alternadamente no mesmo livro. Está claro que o
caráter sagrado da tribo de Levi foi reconhecido em períodos pós-mosaicos
primitivos. Eli foi ameaçado (ISm 2.27-36) de perder o sumo sacerdócio, que se
cumpriu (lRs 2.27) quando Salomão substituiu Abiatar por Zadoque. Zadoque (lCr
6.8,53: 24.3; 27.17) era descendente de Arão por meio de Eleazar. Outros não
tomam o cronista literalmente, e sustentam que Zadoque não provinha de Arão.
Assim, a sucessão araônica foi terminada e transferida para uma família de
levitas não araônica. 1 Samuel 2.27-36 informa sobre a organização do
sacerdócio, mostrando que o sumo sacerdote tinha autoridade sobre vários
ofícios sacerdotais, com remuneração e outros privilégios. Passagens nos livros
de Reis revelam desenvolvimento na organização sacerdotal (2Rs 12.10; 19.2;
25.18; cp. Jr 20.1,2; 29.26).
5. De Davi ao exílio. Quando Davi fez da fortaleza jebusita
sua capital, ele transferiu a arca da aliança para lá, fazendo dela um
santuário real. Ele exerceu algumas funções sacerdotais (2Sm 6.17s.) e vestiu,
numa determinada ocasião, a estola sacerdotal de linho (v. 14). Salomão
ofereceu sacrifícios na dedicação do Templo (lRs 8.5,62ss.), e certas ofertas
três vezes ao ano (9.25). Apesar de os sacerdotes não serem mencionados nestes
períodos, a presença deles parece ser evidente. A relação dos reis do Reino do
Norte com o santuário em Betel era análoga à dos reis de Judá com o Templo em
Jerusalém. Em Jerusalém havia um grande quantidade de sacerdotes, dos quais uma
era designado como estando em primeiro lugar, o sacerdote chefe ou o “chefe da
guarda” e, e.g., Joiada (2Rs 11,9s.), Urias (16.1 Os.), Hilquias (22.10) e
Seraías (25.18). “Chefe da guarda” é encontrado apenas em 2 Reis 25.18;
Jeremias 52.24; Esdras 7.5; e Crônicas, e ocorre juntamente com “sumo
sacerdote”. Sua influência em Jerusalém era considerável (Joiada e Atalia, 2Rs
8.26; 12.2; 2Cr 22.2).
Há uma referência feita a um Sofonias, juntamente com o
sacerdote chefe Seraías, como literalmente “sacerdote da repetição”,
provavelmente o representante ou o segundo em posição em relação ao chefe da
guarda (2Rs 23.4; 25.18). Os guardas do limiar (25.18), cuja posição era
próxima à do sacerdote chefe e à do segundo sacerdote, devem ter sido mais
elevados que os porteiros. Na época de Jóas (12.10), eles eram vistos como os
guardas da entrada para o pátio interno do altar de oferta queimada. Eles também
recolhiam as ofertas do povo para o Templo (22.4). O ofício sacerdotal deles
era pré-exílico, porque não há menção disso em períodos posteriores.
Após o exílio, há referências feitas aos servidores do
Templo, (“aqueles dados” Ed 2.54ss.), que foram dados por Davi e pelos
príncipes para o ministério dos levitas ou do Templo (Ed 8.20). Os cantores e
os porteiros do Templo pós-exílico eram descendentes dos que haviam servido na
mesma posição no Templo pré-exílico (Ed 2.41s.; Ne 7.44s.).
As leis de Deuteronômio a favor dos levitas não foram
completamente implementadas na reforma de Josias. Não há indicação de uma
afluência em massa de levitas de fora de Jerusalém à cidade e da participação
deles no ministério ali. Segundo Reis 23 faz uma tríplice distinção entre os
sacerdotes que não eram de Jerusalém: os kemerím foram destituídos (v. 5), pois
eram sacerdotes idólatras; os sacerdotes das cidades de Judá foram reunidos por
Josias (v. 8); não era permitido aos sacerdotes dos lugares altos se
aproximarem do altar em Jerusalém, mas lhes foi permitido permanecer onde
residiam e obter ali seu sustento (v. 9).
Jeremias chamou seus parentes sacerdotes que estavam em
Anatote (1.1). O livro de Jeremias não apresenta provas da existência de uma
classe de levitas distinta da dos sacerdotes. Alguma organização de sacerdotes
evidentemente existia, pois há referência aos anciãos dos sacerdotes (19.1), à
posição do principal administrador do Templo (20.1; 29.25s.) e à guarda do
limiar (35.4). Os sacerdotes parecem ser considerados como oficiais da corte
(21.1; 29.25s.; 29; 37.23).
Durante esse tempo, o sacerdócio estava assentado em
famílias. O sacerdócio de Dã durou até o fim do Reino do Norte, em 721 a.C.
Quando os filisteus capturaram a arca (1 Sm 4.10,11), a casa de Eli provavelmente
se mudou de Silo para Nobe, onde Saul os matou (21.1-9; 22.9-19). Abiatar
escapou (22.20) e oficiou no reinado de Davi em Jerusalém com Zadoque (2Sm8.17;
15.24-29). Ele foi removido do oficio por Salomão, por ter apoiado Adonias (lRs
1.5-8; 2.26,27); Zadoque tomou seu lugar (2.35). A casa de sacerdotes
zadoquitas permaneceu em Jerusalém até a destruição do Templo, em 586 a.C. (1
Cr 6.8). A descendência de Zadoque é traçada até o filho de Arão, Eleazar (lCr
6.3-12,50-53; 24.3). Durante a monarquia o sacerdócio não-levítico foi
estabelecido por Jeroboão, filho de Nebate, no Reino do Norte (lRs 12.31;
12.33).
Três outras referências a sacerdotes, separadas da ordem
levítica, são: (1) os filhos de Davi (2Sm 8.18); (2) Ira, o jairita, como
sacerdote de Davi (2Sm 20.26); (3) e Zabude, filho de Natã, como sacerdote de
Salomão (lRs 4.5). A dificuldade é que Zadoque e Abiatar, sacerdotes regulares,
estavam ministrando também durante os reinados de Davi e Salomão. Acredita-se
que esses homens eram amigos do rei, e que receberam o título de sacerdote como
cortesia.
Durante a monarquia primitiva o rei tinha responsabilidades
sacerdotais. Saul ofereceu uma oferta queimada e ofertas pacíficas em Gilgal
durante a ausência de Samuel, sendo repreendido mais tarde (1Sm 13.8-13). Davi
administrou a mudança da arca para Jerusalém (2Sm 6.12-19), vestiu a estola
sacerdotal (v. 14), ofereceu sacrifícios (vv. 13,17) e abençoou o povo, em nome
de Deus (v. 18). Na dedicação do Templo Salomão colocou-se perante o altar para
oferecer a oração de dedicação; apresentou as ofertas (animal e cereal) e
abençoou o povo (lRs 8.22-53,62,63,64; cp. 8.14ss.,54ss.), enquanto os
sacerdotes e levitas traziam a arca e os vasos santos ao santo lugar (vv.
4,6ss.). Salomão apresentava ofertas queimadas, ofertas pacíficas e incenso
três vezes ao ano (9.25). Jeroboão, filho de Nebate, ofereceu sacrifícios e
incenso queimado (12.32,33). Acaz, no séc. 8 a.C., instruiu Urias, o sacerdote,
a construir em Jerusalém uma cópia do altar em Damasco, mas ele mesmo ofereceu
sacrifícios nele (2Rs 16.10-13). Evidentemente o rei era um rei-sacerdote,
mediador entre Deus e Israel. O cronista, porém, viu a tentativa de Uzias de
queimar incenso no Templo como uma violação dos direitos sacerdotais, de forma
que o rei foi ferido com lepra, até morrer (2Cr 26.16-20).
Uma observação geral sobre esse período é que, com a
multiplicação dos santuários e a formação dos sacerdotes por toda a terra em
uma classe bem definida, sacerdotes e levitas se tomaram termos equivalentes.
Suas tradições comuns de lei e ritual foram traçados, então, até Moisés (Dt
33.11). Embora dependentes da monarquia, eles gozaram de influência crescente
(Joiada, 2Rs 11.4ss.).